Queridos amigos, é um prazer cumprimentá-los novamente depois do nosso diálogo na Assembleia Geral da Associação de Universidades Internacionais, o encontro que compartilhamos na Pontifícia Universidade Javeriana, e reencontrá-los hoje por este meio, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, anfitriã do Terceiro Simpósio de Inovação e da Vigésima Quarta Assembleia Ordinária da AUSJAL.
Agradeço a todos os que tornaram estes encontros possíveis e gostaria de convidá-los a comemorar os quarenta anos da nossa associação latino-americana, inspirados na “contemplação para alcançar o amor”, proposta por Santo Inácio: colocar-se diante de Deus Nosso Senhor e saborear internamente o que é recebido, para que, reconhecendo-o, amemos e sirvamos em tudo.
Os Exercícios Espirituais nos apresentam essa contemplação como a foz de um grande rio que flui através da graça misericordiosa e da ordem das semanas: o conhecimento interior de Jesus na primeira semana, a lucidez para passar com Ele pela dor de sua paixão na segunda e terceira semanas, e, finalmente, desfrutar com Ele sua ressurreição. Só posso ser grato por tantas boas-vindas, com a profundidade proposta por San Martín, que percorreu esse caminho espiritual vivendo-o com hondura em sua vida cotidiana, assim como tantas de nossas irmãs e irmãos.
A Contemplação para Alcançar o Amor nos convida a trazer à mente os benefícios recebidos, a ver como Deus habita nas criaturas, a considerar como Ele trabalha em todas as coisas criadas e a reconhecer que todos os bens e dons descem do alto. Seguirei o esquema proposto por San Martín para esta memória dos quarenta anos da AUSJAL.
Em primeiro lugar, trago à mente os benefícios recebidos
Nossa vida e nosso chamado a servir como associação de universidades confiadas à Companhia de Jesus na América Latina e no Caribe são claramente um presente de Deus. Hoje celebramos a amizade com a qual o Senhor Jesus convocou os reitores de nossas universidades para criar esta associação, chamada a promover a colaboração e a solidariedade entre seus membros, contribuindo para sua missão, identidade, desenvolvimento institucional e compromisso social.
Cinco anos depois, em 10 de novembro de 1985, a Assembleia da AUSJAL concordou em desenvolver uma ideologia comum na área de identidade e dos desafios que a realidade de nossos países apresentava às nossas universidades. O resultado desse trabalho é o documento Desafios Latino-Americanos e Propostas Educacionais, cuja estrutura revela a fundação de um curso de ação específico da associação.
O documento inicia com uma carta do Superior Geral da Companhia, agradecendo à AUSJAL por sua adaptação e inculturação das características da educação inaciana nas universidades da América Latina. Nessa carta, o Padre Kolvenbach afirma que o texto oferece às nossas comunidades universitárias uma visão e um propósito comuns, que só podem ser alcançados se forem estudados, compreendidos e implementados como ferramenta permanente de avaliação — indicando o que devemos deixar de fazer e o que podemos fazer melhor.
De acordo com a pedagogia inaciana, o documento continua com uma análise do contexto e dos desafios das sociedades latino-americanas — pobreza, desenvolvimento, relação entre universidade e sociedade, modernidade e universidade — desafios que provavelmente lhes são familiares em toda a sua complexidade. Em seguida, destaca a identidade e a contribuição das universidades da Companhia de Jesus na chave da inspiração cristã e da tradição, tema sobre o qual refletimos recentemente em nossa Assembleia da AUSJAL e que precisamos continuar a aprofundar. Por fim, define objetivos, prioridades e linhas de ação da AUSJAL, fundamento sobre o qual vocês trabalharão no Plano Estratégico 2031 nesta semana.
Atribui-se a Isaac Newton a frase: “Se enxerguei mais longe, foi por estar sobre os ombros de gigantes”. A versão inaciana dessa ideia, formulada no século XII por Bernardo de Chartres, seria colaborar como nossos antecessores fizeram, agradecidos ao eterno Senhor de todas as coisas, que quis nascer na pobreza extrema e, no final de tantos trabalhos — fome, sede, calor, frio, insultos —, enfrentou a morte na cruz, ressuscitou e assim redimiu a humanidade. É Ele quem habita nas criaturas.
Mirar cómo Dios habita en las criaturas.
Deus habita e dá vida a cada pessoa que compõe nossas comunidades: nossos alunos, que somos chamados a acompanhar e formar integralmente; nossos graduados, testemunho vivo da missão que levamos ao mundo; cada membro das comunidades com quem nos vinculamos em nossas sociedades. Deus habita em cada planta, árvore e animal que anima nossos campos; vive em toda a casa comum da criação, que o Papa Francisco nos convoca a cuidar em Laudato Si’. Vivemos este mês um marco importante rumo à COP30 sobre mudança climática, para onde levaremos a voz de quase cem mil estudantes das nossas universidades, exigindo redução de emissões e perdão da dívida dos países emergentes, permitindo-lhes investir nessa redução e em outras necessidades urgentes.
Deus habita em cada cidadão de nossos países, e ouvimos seu clamor especialmente naqueles cujas vidas estão em risco pelas guerras alimentadas pela ambição de líderes nacionais e pelo crime organizado; pela migração forçada e pelo deslocamento; pela luta pelo direito de habitar um território com dignidade; e pelas ameaças às nossas democracias, fragilizadas por manipulações e interesses que as corroem.
Dios trabaja y labora en todas las cosas criadas.
Deus habita em cada colaboradora e colaborador de nossas universidades, chamados a dedicar seu trabalho à missão, sendo justamente remunerados e cuidados como Jesus nos cuida. Habita nossos esforços para sermos espaços onde o diálogo crítico acontece diante dos avanços tecnológicos, priorizando a dignidade humana, a justiça e o bem comum. Habita nossos diálogos entre ciência e fé, fortalecendo a busca rigorosa pela verdade — tão questionada hoje — e favorecendo o discernimento intelectual como parte da formação integral.
No âmbito desta celebração, refiro-me a cada um dos grupos que compõem a AUSJAL, agradecendo como Deus tem operado por meio deles desde sua fundação. Refiro-me aos que promovem a educação integral de nossos alunos em dimensões como
Nossa identidade inaciana e missão cristã, por meio do grupo de Pastoral; ao Programa de Liderança Inaciana Universitária Latino-Americana (PLIUL);
O grupo de Direitos Humanos, que já formou mais de 7.000 líderes ao longo de 23 anos
Aos programas de telecolaboração do Intercampus, abertos aos nossos alunos e ao público interessado em ampliar sua formação universitária
A rede de dupla imersão virtual, onde alunos e professores dialogam interculturalmente em inglês, espanhol e português — línguas essenciais para a reconciliação de nossas sociedades em termos de justiça socioambiental.
Incluo também os coletivos dedicados à investigação e comunicação científica por diversos canais
La Red de Ambiente y Sustentabilidad, que intercambia y publica sus mejores prácticas de gestión universitaria sustentable y estudia la relación entre depredación ambiental y la corrupción globalizada.
A Rede de Desigualdade e Pobreza, que produz estudos e breviários de políticas públicas para contextualizar e problematizar esses fenômenos.
A Rede do Direito à Comunicação e à Democracia, que pesquisa e divulga descobertas sobre esse direito fundamental
A Rede Educacional dedicada à inovação e às práticas pedagógicas; a Rede de Tecnologias da Informação e Comunicação, que investiga competências necessárias ao ensino com tecnologias e oferece formação
A Rede de Tecnologias da Informação e Comunicação, que investiga competências necessárias ao ensino com tecnologias e oferece formação
o grupo de Filosofia, que pesquisa, dialoga e publica sobre esta disciplina fundamental e suas fronteiras
O Observatório da Democracia na América Latina, que estuda a crise e o desencanto com nossos sistemas democráticos e lidera nossa força-tarefa global sobre esse tema, no qual devemos aprofundar nossa incidência.
Agradeço o trabalho dos coletivos de gestão acadêmica em áreas como:
A Cooperação Acadêmica e Relações Interinstitucionais, responsável pela internacionalização estudantil e docente financiada de modo solidário.
Bibliotecas, que, sob um modelo de redução equitativa de custos, fornecem recursos informacionais às nossas comunidades universitárias.
Bibliotecas, que bajo un modelo de reducción equitativa de costos provee de recursos informáticos a nuestras comunidades universitarias.
Pós-graduação e Pesquisa, que catalogou sua oferta formativa em cada instituição e lançou uma convocatória interuniversitária para promover a produção de conhecimento sobre democracia, direitos humanos, cultura de paz, desenvolvimento sustentável e migração forçada.
Editoras universitárias, grupo que concentra esforços de comunicação literária e publica um catálogo das obras das nossas instituições.
E as Vice-Reitorias Acadêmicas, que trocam práticas de gestão voltadas ao cuidado com a qualidade educativa e ao acompanhamento estudantil.
Finalmente, agradeço a Deus o trabalho da Assembleia de Reitores da AUSJAL e da equipe de sua Secretaria Executiva, que impulsionam e coordenam este esforço segundo a missão que compartilhamos.
Segundo: Contemplar como todos os bens e dons descem de Deus.
Nossas possibilidades limitadas como rede interuniversitária, a fragilidade da AUSJAL e de cada um de seus membros, assim como todos os seus bens e dons, são também graça de Deus. Agradeçamos a Ele o intenso processo de planejamento estratégico, cujos frutos são publicados nesta semana e serão concretizados em projetos nos próximos meses.
Ratificada a missão da AUSJAL que enunciei inicialmente, quero apoiar sua visão renovada. Se estivermos vivos em 2031, queremos juntos testemunhar que a AUSJAL promove a formação integral e a produção e transferência de conhecimento de forma inovadora, com selo inaciano e sentido de transformação social; que também facilita a cooperação entre seus membros para responder conjuntamente às Preferências Apostólicas Universais da Companhia de Jesus; e que reflete uma gestão eficiente, transparente e atenta ao bem-estar das comunidades universitárias.
Agradecidos pelo chamado do Senhor àqueles que fundaram e aos que hoje dão vida à nossa associação, podemos reconhecer com grande carinho tudo o que Deus fez por nós ao nos convocar para esta tarefa interuniversitária, e considerar com razão e justiça o que podemos e devemos oferecer a Ele, como quem oferece com profundo afeto: “Tomai, Senhor, e recebei”.
Celebremos, agradecidos, estes 40 anos de caminhada.
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